Cultura Tradicional no VAI
Aqui, da esquina alguma coisa acontece em meu-seu coração. Nos cruzamentos e atravessamentos das pontes sul-norte/leste-oeste, nos concentramos e sintetizamos frenêsi e fazendo das artes-tradições nosso instrumento de re-existir.
Dos bonecos de Olinda à cultura hip-hop, São Paulo se faz cenário para nossa rede e caldeirão da diversidade.
Cultura: o culto, o cultivo. O Humus: a terra. Nós humanos, seres terra. Imiscuidos nesta selva de pedra, concretos e verticalizações os grupos de cultura tradicional, contemplados pelo VAI, buscam cavar fundo e encontrar raízes.
A “Arte horta” convida a comunidade do Recanto dos Humildes a se apropriar de seus espaços: quintais e paredes para brincar-pintar “fazer girar, quem quer girar”.
Levados pela roda e pela ginga o “Crianças Raízes” evoca a dança, música e capoeira, herança de nossos mestres. Nas pontes travessias, lá do outro lado o coletivo “Batuque Arte” chama a comunidade para se reinserir e resgatar o laço afroancestral sendo norte, sendo sul.
Vamos construindo e partilhando o saber ancestral, herança genética: é no pulsar dos tambores que o som é benção e tradição. Ebi Ka Ifé reconta a história do quilombola de Perus. Para saber para onde seguir, é preciso olhar para traz e lembrar de onde viemos.
A palavra, nosso substantivo comum e feminino, fruto de manifesto e intervenção poética do “Coletivo Esperança Garcia”. A história, o conto; Que imagem é essa que o tempo nos imprime e o sistema oprime? Mergulhados no emaranhado e complexidade que nos faz humanos-paulistanos…permanecemos.
A travessia do solo África ao solo Brasil descortina e traz a memória dos cabelos, da pele, Tecendo e Trançando Arte. Em Itaquera, o grupo Sucatas Ambulantes contrói os ritmos e cores dos bonecões de Olinda. Subimos o morro e encontramos o Maranhão, cores e sabores do grupo Cupuaçu. É na praça, terreiro de morte e renascimento do Boi que os artistas jovens-multiplicadores oficinam a dança e a tradição.
Desde que o Samba é Sampa partilha um estudo-reflexão sobre as rodas de samba em SP.
Panamérica de Áfricas Utópicas do mundo, São Paulo novo possível terreiro eletrônico, em seus becos e vilas: o nascer de coletivos que se fazem e refazem no ritmo-poesia, na ginga, nos batuques e nas cores.
A velha São Paulo, sendo revista por seus jovens reflexos de nossa complexidade. Neste mosáico recriamos e cocriamos seus espaços, nos colocamos atores neste tempo que nos convoca a viver e compreender quem somos.
Maitê Freitas- Relatora do GT Cultura Tradicional
São Paulo, 23 de Junho de 2012
ENCONTRO DE GRUPOS – VAI 2012
Foto Renato Adriano