Saúde mental e pandemia
Não nascemos prontos e acabados, precisamos do risco, das incertezas e dos erros como base para conhecimento de si e do mundo, a vida economizada é aquela que não permite a criação.
Por Reynaldo de Azevedo Gosmão
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Há alguns estudos que dizem que a pandemia tem levantado uma onda de transtornos psicológicos, homens, mulheres, crianças, adolescentes, jovens e idosos tiveram suas vidas brutalmente alteradas.

Algumas pessoas fazem correlação entre as incertezas como gatilho para as ansiedades, depressão e outros transtornos, e vão além, em dizer que teremos um “novo normal”, que implicará novas formas de relacionar com outro, e inclusive teremos que questionar como estar no mundo.
Diante disso, eu irei problematizar que novo normal é esse que projetamos no futuro? E se em alguma época da nossa sociedade é possível depreender uma sociedade regular, habitual e comum?
De forma generalista, a resposta é não: a sociedade, assim como a lógica democrática, é forjada em contradições, rompimentos, instabilidades o que torna as nossas vidas sempre em um processo de apuração de novos sentidos, inacabada.
Talvez, o que tenha tomado mais visibilidade são as incertezas. O que antes estava estipulado, padronizado e planejado, como uma viagem, festa, cursos, entre outros projetos se tornaram impossibilitados e outros tomaram outros formatos, como as vídeo aulas, ou eventos que se transformaram em lives.
E o que era dado socialmente é que a felicidades viria com a realização de projetos, participação em festas, ou a realização de atividades em determinados prazos, e possivelmente, neste momento estamos compreendendo que a felicidade, bem como a saúde mental não está nas coisas, mas na forma de se relacionar com o mundo.
Como significação da palavra RISCO, podemos depreender: o risco de estar em perigo, e o risco que criam marcas, um desenho, uma criação! O risco como perigo, muitas vezes é tomado como sinal de impotência, “naquilo há um perigo, melhor não fazer”.
Em Freud a condição humana é forjada na castração, ou seja, a falta é para todos, e por sermos faltosos as incertezas são presentes.
Geralmente confundimos a falta, a impossibilidade, com a impotência, usando o risco como forma de proteção, evitação e principalmente para manter os ideais que entram em “choque” ao lidar com a realidade.
Como não nascemos prontos e acabados, precisamos do risco, das incertezas e dos erros como base para conhecimento de si e do mundo, a vida economizada é aquela que não permite a criação.
Devemos ficar atentos para não reduzirmos a nossa existência ao mundo por vias de simulacros, que evitem a criação, porque flores de plástico não morrem já são criadas sem vida!

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Imagem destacada: Conselho Nacional de Saúde