“Made in Brazil”: commodities e ofensas
Nosso país tem uma bela trajetória diplomática, mas nos últimos tempos estamos exportando uma imagem negativa do nosso país.
Por Victor Augusto Capellari
–
Isso pode ser surpreendente, levando em consideração a quantidade de coisas “Made in China” que encontramos por aí, mas a verdade é que a China compra muita coisa do Brasil, ou para ser mais preciso, compram uma coisa em quantidade colossal.

O Brasil exporta basicamente commodities, com preço uniformemente determinado pela oferta e procura internacional, nesse caso soja. Já a China exporta itens manufaturados, prontos ou em peças a serem montadas aqui, além de outras tecnologias.
Essa relação pode lembrar o tratado de panos e vinho, assinado entre Portugal e Inglaterra, criado para facilitar o comércio de vinho lusitano e produtos têxteis ingleses. Acontece que, com isso, os portugueses não investiram na industrialização e sua economia se tornou presa aos britânicos.
A industrialização, além de abrir novas oportunidades de emprego, traz espaço para a mão de obra especializada junto com iniciativas como a do Sistema S, com o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), que qualifica a mão de obra, e o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), que dá suporte para iniciativas empreendedoras.
Outra atitude inteligente seria investir nas pesquisas universitárias, como aquela que está tentando desenvolver um ventilador pulmonar aberto de baixo custo para a crise do coronavírus, ou investir em pesquisas para o desenvolvimento de remédios e produtos cosméticos aproveitando a biodiversidade nacional, no lugar de destruir tudo para plantar soja.

Também poderíamos investir nas redes básicas de ensino, para que mais gente consiga chegar à faculdade. E melhorar a qualidade de vida e saúde básica para abrir espaço para empreendedores. Afinal, tudo o que movimenta a economia e desenvolve a nação.
Mas, apesar de tudo, a relação comercial com a China tem seu lado positivo: estamos em superávit, isso significa que, fazendo as contas entre exportação e importação, estamos no lucro.
Uma estratégia seria investir, nem que seja parte desse dinheiro, nas pesquisas universitárias, educação e industrialização nacional.
Mas o caminho escolhido, pelo menos pelo filho do presidente, foi ir às redes sociais falar do “vírus chinês”, sem se importar com as advertências da OMS (Organização Mundial de Saúde).
A “gripe espanhola” só tem esse nome porque a Espanha foi o primeiro a reconhecer a existência da doença que já existia em outros países. Dar o nome de uma cidade ou país funciona como imposição, pode atrapalhar o comércio e turismo, levando as cidades no futuro a esconder a existência de novas doenças, vírus e bactérias.
Infelizmente esse não é nosso único problema nas relações internacionais – depois de anos negociando, estamos jogando fora o possível acordo entre o Mercosul e União Europeia.
Algumas pessoas tinham medo de, com esse acordo, o Brasil virasse de vez a fazenda do mundo, e um dos preocupados com isso é a França, que alinhou seu medo de ter que concorrer com produtos brasileiros no mercado europeu com seu histórico posicionamento em questões ambientais.
A estratégia tomada foi pedir uma diminuição do uso de agrotóxicos, já que o Brasil utiliza até mesmo aqueles que são barrados no resto do mundo.
Nossa resposta foi queimar uma floresta e falar da esposa do presidente francês.
Nossa indústria também sofre com isso, afinal os carros brasileiros já são os mais usados em todo o Mercosul, e esse acordo poderia levar nossos veículos ao mercado europeu e incentivar a indústria nacional. Nosso país tem uma bela trajetória diplomática, mas nos últimos tempos estamos exportando uma imagem negativa do nosso país. Se não tomarmos cuidado e desenvolvermos uma estratégia para o desenvolvimento nacional, pode ser que isso também seja destruído para virar pasto.

–
