Dia Internacional das Meninas e Mulheres na ciência
Você sabe como surgiu e qual é a importância de celebrarmos essa data, principalmente durante uma pandemia?
Por Rayana Burgos
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O Dia Internacional das Meninas e Mulheres na Ciência surgiu em 2015 a partir de uma iniciativa da ONU e da UNESCO com o objetivo de encorajar meninas e mulheres a se dedicarem em carreiras dentro da ciência, incluindo também as áreas de tecnologia, estatística ou matemática.
Por muito tempo nós, mulheres, fomos proibidas de ter acesso à educação porque os homens acreditavam que nós não tínhamos potencial para aprender e que nosso lugar era em casa, restrito aos serviços doméstico.
Porém, muitas pessoas dedicaram suas vidas e carreiras na luta em busca de uma educação justa para todas. Uma dessas pessoas, por exemplo, é a Malala Yousafzai. Malala ficou conhecida mundialmente após ser baleada ao sair da escola em outubro de 2012, quando tinha 15 anos. Esse atentado foi causado porque ela se manifestou contra a proibição dos estudos para as mulheres em seu país, o Paquistão.
Após a sua recuperação, durante várias entrevistas, Malala falou sobre como foi proibida de estudar e defendeu abertamente que as mulheres devem se impor em um mundo machista que quer limitá-las.

Hoje, com 22 anos, ela se formou em Filosofia, Política e Economia em Oxford.
Mesmo com as lutas históricas, e com exemplos de pessoas como a Malala, ainda hoje não conseguimos garantir um acesso igualitário à educação e sentimos os efeitos da desigualdade de gênero principalmente dentro das profissões que lidam com a ciência.
A Unesco afirma que menos de 30% dos pesquisadores em todo o mundo são mulheres. Durante a Pandemia, enfrentamos desafios atípicos que impactaram diretamente a produção científica de mulheres, principalmente as mães e mulheres negras. O rendimento acadêmico, refletido principalmente na submissão de artigos científicos, caiu.

Pesquisadoras negras têm mais dificuldade de trabalhar de forma remota e, por conseguinte, submetem menos artigos do que o planejado. E, sobre as mães, mais de 50% das mulheres com filhos deixaram de entregar artigos, enquanto só 38% dos homens com filhos deixaram de publicar.
Esse número é preocupante por mostrar que nós continuamos com uma carga de trabalho doméstico exaustiva.
O IBGE aponta que as mulheres trabalham em casa 2 vezes mais do que os homens, o que afeta o desempenho acadêmico e a carreira profissional. Com o isolamento, as mulheres acabaram se tornando também as principais responsáveis pelo ensino remoto e pelos cuidados com os filhos.
Segundo dados do relatório “Gênero e COVID-19 na América Latina e No Caribe: Dimensões de Gênero na Resposta”, publicado pela ONU Mulheres, os efeitos da quarentena são mais sensíveis para mulheres. Mulheres perderam primeiro seus empregos e sofreram mais cortes salariais. Tudo isso, somado à falta de representatividade feminina em posições de tomada de decisão política e ao aumento da violência doméstica e familiar durante a pandemia, formam um cenário no qual mulheres pouco acessam ou deixam de acessar espaços de educação e produção científica.
Porém, apesar de sermos mais afetadas durante a pandemia, foram mulheres brasileiras que fizeram a diferença no enfrentamento ao coronavírus.
Dentro das ciências da saúde, elas são maioria: 57% do total de 28.612 pesquisadores contabilizados são mulheres. O primeiro caso brasileiro do coronavírus foi confirmado em 26 de fevereiro e em menos de 48 horas depois uma equipe coordenada e composta em maioria por mulheres publicou o sequenciamento do vírus.

Além disso, os três centros de estudo da vacina de Oxford no Brasil, em São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, têm à frente cientistas mulheres, e a categoria dos profissionais de enfermagem é predominantemente feminina, sendo composta por 84,6% de mulheres.
Quando olhamos para a crise sanitária provocada pelo novo coronavírus, percebemos que as mulheres cientistas brasileiras têm muito a contribuir.
Por isso, hoje, o dia internacional das mulheres e meninas na ciência, é uma data para celebrar os nossos direitos e relembrar que a nossa luta pela educação é constante. Precisamos romper com as barreiras da desigualdade de gênero em todos os aspectos sociais, para garantir um ensino igual e dar espaço ao protagonismo feminino.
Estude como uma garota!

- Quer saber mais sobre a história de outras pesquisadoras brasileiras? Clique aqui para ler o texto da Larissa Carneiro apresentando 5 mulheres da ciência brasileira que você precisa conhecer!
- Quer saber mais sobre os desafios da maternidade (e paternidade!) na academia brasileira? O projeto Parent in Science surgiu com o intuito de levantar a discussão sobre a maternidade (e paternidade!) dentro do universo da ciência do Brasil.
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